sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Ecoa como as correntes

Teu filho urra de prazer e você o amordaça. Nega o sentido do existir, faz gozar sangue novo, ralo, vermelho fraco. Medo escorre por sua garganta e grita no escuro. A madrugada é perigosa, ela pode matar.
Guarda os recibos no bolso interno do paletó, conta os números, desconta os erros. Arrasta os pés pelo chão pra causar alvoroço, mas seu jeito maltrapilho não causa comoção. Se tornou invisível, seu berro abafado. Conserva num pote os retalhos do coração que já bateu.
Logo depois da manhã, o sol sai do esconderijo pra te queimar e você nem nota a podridão dos teus ossos. Em cada milímetro de teu corpo a cólera dança. 
Organiza a ceia de latas amassadas e braços dilacerados em companhia dos pequenos abandonados no centro do desassossego. Trancafiado no porão, criado e amante, não vê a luz do dia, não alcança a sombra do desapego.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Procurando teu resto na camiseta azul

Esta noite quero ficar sóbria e não sentir as mãos, deixar o vento controlar meus movimentos e tropeçar na beira da calçada. Vou despencar do precipício. Pular da ponte e me afogar na garrafa de cachaça. Ficar sóbria sem sentir o beijo.
Dizer o nome errado, olhar por cima do ombro a briga na casa vizinha. Aprender alemão e ir ao pub dormir em cima da mesa. Ficar sóbria e só beber uísque. 
No almoço de domingo acompanhar legendas dos corpos mundanos, do peito fechado e pupila dilatada. Desinteresse na segunda, desespero, carteira vazia e boca a mastigar. Pra ficar sóbria e não enxergar no espelho o rosto. O uivo descontrolado do cão acorrentado é ensurdecedor. 
Vou ficar sóbria, pois não senti tuas unhas me rasgando a roupa, arranhando as costas ou puxando meu cabelo.

Posso lhe oferecer um café?

Tomei overdose de chá verde e vi o pássaro me vigiando do alto, audacioso com suas asas, vagando por outros mundos. 
Deixe de lado toda essa pose, puxe a cadeira e se sente comigo, vamos conversar sobre a primeira guerra mundial. A casa tá uma bagunça, os móveis fora do lugar, a dispensa vazia e as portas do armário não fecham. Tuas coisas estão na caixa com teu nome grudado. 
Te dou de presente o filtro do cigarro que usei pra evaporar vestígio teu. Saiu do pulmão como um grito de dor que cicatriza antes que se note. Meu bem, não há como imitar o balé das árvores. Pra cá, gira de lado, pra lá, meio passo pra esquerda, uma volta inteira sem par. Não dê ouvidos ao som das cordas.
Me tornei garoa fina, sem trovão que te faça esconder embaixo do edredom. Calmaria pra procissão de velas brancas.

Pra te livrar das paredes brancas

Sonhos foram feitos para viver, não pra guardar no travesseiro. É pra te libertar da rotina, da escravidão atrás das mesas de escritório, do ônibus lotado nos horários de pico, da cara ensaiada feita num molde e vendida as dúzias. 
Guarda a alma no cabide escondido no fundo do guarda-roupa, ao lado do vestido que nunca quis usar. O que aconteceu com a sinfonia de tua infância? Teu perfume era cor-de-rosa e tinha cheiro de livro novo. Sua vida se resume em páginas dobradas pra repousar a covardia.
Cresceu e nem ao menos aprendeu a tocar violão, deixou dias secos roubarem sua essência. Não admite o pôr do sol, não ultrapassa a porta do quarto. Anota os recados do calendário na vidraça, proíbe o coro da imaginação que vem em duo. 
Amanhã é o fim do mundo e o que você deixou se não um punhado de desculpas?

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Nove meses num dia só

Prendi o gosto pela leveza do teu embaraço de passos, trancei teus lábios doces e febris em meu arrogante aroma. Nossos corpos unidos pelo laço dos braços em comunhão.
Te guardo do mundo, a protejo de toda adaga atirada por olhos invejosos na esquina do fim. Te sinto em cada arrepio dos dedos dançantes na briga suave dos teus medos junto aos meus. Busca por território.
Rabisco teu nome num pedaço da pele que é pra garantir presença todo segundo do dia.
Dá pra se fazer poesia com a asa do inseto na flor. Dá pra se fazer poesia da tua costela, e dos pontilhados que a caneta deixa na mão. Tudo deixa de ser patético quando se apaga a luz do abajur na mesa de cabeceira. Amor, poesia é feita do nosso ardor.
Meu casaco marrom pendurado atrás da porta, guarda-chuva pros dias de temporal. Parte minha é teu abrigo pra quando o céu acinzentar.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Deixo a parte ruim pra você esquecer

Meus olhos embaçados por não conseguir piscar fazem pouco caso das besteiras no jornal. Deito no verde escuro da grama coberta por areia e só faço pensar no natal. A fumaça sai da boca e eu não sei se é frio ou poeira da alma. Ou se é a calma se esvaindo.
Sinto a ponta do meu coração pulsar na garganta feito remédio ruim que amarga a boca. Sinto pelas doses injetadas no pulso deixarem cicatrizes como as bobagens que ouvi. Rezo pro silêncio ouvir meus segundos de insanidade. Não há em que acreditar já que a tua mão me soltou. 
Ao pular da ponte em seis de abril, a transparência do rio de barro pode me esmagar, fazendo jus ao drama que vivencio. Pra deixar o cansaço do cotidiano se perder nas margens.
Mas não há sequer uma ponte que ligue nossos estados, não há divisa entre teu ponto alto e a minha depressão. Só o que existe é o verso que faz graça com a vontade, e o orgulho que cala a saudade ao preferir a insônia. 

domingo, 25 de novembro de 2012

Pra te encaixar na horizontal de minhas palavras cruzadas

No sereno calado faço serenata de palavras no teu par de ouvidos, enquanto meus dedos te carinham o rosto. Se tocar samba no rádio você me acompanha? Sambar a dois é bem melhor que sozinha.
Quando a amargura preenche, me embalo ao som do tango. Tango de um pé só, sem tocar o chão. Tango que na rua o moço tocou.
Roupa amassada me servindo de lençol, você enciumada balançando no varal. Tua voz dita o fim pros devaneios dentro do extenso campo de rosas mortas. Eram espinhos disfarçados de alegria.
Fiquei cega com tanto barulho, tuas pernas resolveram abrir caminho em busca da saída desse labirinto de uma estrada sem fim. Um corredor interno, estreito feito o centro da cidade. Fruto das abreviações de um tempo morno, raso, cheio de atalhos em becos sem sinalização.
Teu corpo me tirou do sofá, avermelhou minhas linhas, fez poesia. Rima boa, bonita feito canção de mpb.

sábado, 24 de novembro de 2012

Baile de máscaras na calçada do norte

Guarde teu pranto e te acalme, pois a avenida das flores partidas num bloco qualquer há de findar. E, menina, se esse carnaval enfim começar, tua fantasia mesquinha e sandália de salto alto por peitos de corações fechados irá sapatear. Cambalear ferida no meio de dores e fortes interpretações dos que se deixaram levar por tantos amores e horrores, que só teu copo de cerveja sabe contar.
A alameda de lágrimas do bar embaixo da árvore no quintal de casa é lar dos desvairados, desacreditados, bêbados encharcados por seu próprio vômito e sonhadores alcoolizados de angústia, que tanta história tem pra ouvir e plagiar em cadernos guardados na escrivania.
Solo de guitarra, cavaquinho e pandeiro no disco que a vitrola toca, e teu óculos escuro examina diante da multidão fedorenta e sedenta por sangue. 
Toque gaita, feche os olhos e deixe pra lá. Amanhã o sol retorna e teu quarto escuro, repleto de ingratidão, terá porta aberta para a latente solidão que corta te fazer jorrar.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

E o show ainda nem chegou na metade

E dá pra ser inteira quando te engolem a vida? A saudade me bate o dia todo, minhas olheiras podem comprovar.
Sabe aquilo de deixar livre quem você ama? Então, foi o que fiz. Minha mão te apertava demais e meus calos te machucavam. Te soltei mesmo sabendo que eu iria precisar, não queria que tudo o que a gente criou virasse lembrança ruim. Hoje nem lembrança vou ser. 
Meu bem, sei que não voltarás, mas dentro de mim você vai morar pra sempre. Prometi tua paz e assim será, mantenha o sorriso que daqui conseguirei ver. Estaremos distantes outra vez.

domingo, 18 de novembro de 2012

Gota pesada que acaba no queixo

Alegrar a gaveta repleta de jornal não parece boa ideia, Sophia prefere inundar a toalha da mesa. Sempre chora quando a dor não cabe mais, e é tão frequente que ela até perdeu as contas. Guardava tudo no bloco de notas que o avô lhe deu no natal. Sua mãe o jogou fora na faxina do último fim de semana, não compreendia a poesia contida nos pequenos pedaços de branco.
Agora que seu pequenino companheiro havia se perdido no lixo, usava qualquer espaço vazio pra preencher com suas escritas, inclusive a própria pele. Sem perceber, rabiscou o braço do melhor amigo e também o de um desconhecido que dividia o banco do ônibus. 
Apesar de pequena, não se encaixava em lugar algum. Cansada de se esquivar pra não cair em becos alheios, resolveu deixar suas histórias para outras bocas. Partiu levando apenas o que o corpo carregava, foi procurar algum centímetro que a agrade. Sem se despedir pra não sentir o gosto do não. 
Cabeça e ombro a disputar, será que a linha de chegada é o ponto final?
Toda noite antes de dormir, Sophia cantava baixinho pros monstros escondidos no armário (e embaixo da cama) não ouvirem:  

"Se essa casa, se essa casa fosse minha / dentro dela você não morava não / pois aqui, pois aqui só habita / quem consegue sorrir com o coração."

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Tantos caminhos possíveis depois que o sol já se foi

São muitas ideias pra um banco só, muita fumaça inundando a cabeça, buscando lugar pra escorrer. Vai vazar pelos ouvidos e carnavalizar por aí. Se quiser conhecer os demônios que me atormentam, deixe janelas e portas abertas.
O sopro do vento bagunça o cabelo e afasta o afago fraquejado da palma das mãos. Esperei por tempo demais, meu bem, a brisa veio e te levou pra outros galhos. Te fiz leve, te fiz verde, porém longe de mim vais amarelar. Irá cair um tanto além da sombra que cobre o campo.
Menina das páginas embranquecidas, sofro de um enorme bloqueio nas cordas vocais quando longe de ti. O canto dos pássaros que brilha com a manhã não satisfaz, me acostumei com o grave oriundo de teu ego, com as ondas sonoras vindas de teu abismo pessoal.
Menina dos pequenos traços preenchidos de marrom claro, quase cor da pele, isso aqui não é um texto sobre amor. Menina, esse texto é sobre algo que perdemos em meio aos fios enrolados de celulares desligados. Você, eu, e a caixa postal.

sábado, 27 de outubro de 2012

Guarde seus balões pra outra festa

Estava descalça, queria sentir o chão, mas mais que isso, queria fazer parte dele.
- Ela é linda, mas completamente louca. Onde já se viu ser feliz desse jeito? Dizem os reis do mundo. Estreitados pelos galhos de seus corpos, enfurecidos, pois a menina do vai e vem de pernas não os ouvia. Era cega e surda no mundo dos cheios de si.
O barulho de seus saltos faz eco por entre os corredores das ruas. Os donos de tudo não se permitem contagiar, são falantes e entendidos demais pra compreender a linguagem do som. É a angústia que permeia seus pulmões, seus sonhos tem prazo de validade. Só fazem cobrar juros e derrubar em costas alheias o fardo de suas escolhas. Suas consequências nunca geram atos.
A garota dos cabelos cor de fogo pouco se importa, continua a exibir-se no meio da multidão. Com a lâmina afiada de seu verde esmeralda passeava por meu corpo e me deixava nua. Da ponta dos pés até o abraço dos olhos. Sem roupa e sem a carcaça que me cobre os órgãos. Quase toquei cada centímetro de sua branquidão. 
Perdoa-me a vestimenta, o linguajar e até o olhar bagunçado, perto de tua desenvoltura me vi acanhada, minúscula.
Fiquei a te observar por entre os pequenos espaços deixados pelos críticos curiosos. Sei que há mistérios escondidos dentro de teu sorriso inteiro. Ninguém sorri inteiro, sabe? São sempre trechos bons que escapam pela boca e duram meios segundos. Nenhum se prolonga por mais que isso, e o teu durou a noite toda. Não te cansou a boca?
Lembro de te ver chegar e pensar que tua palidez seria incapaz de emitir sentimento algum. Com toda a minha cor, julguei teu ser através das tabelas, sem entender que às vezes as melhores coisas vem sem manual. 
Antes da contagem regressiva que antecede o brinde final, não pude deixar de notar os calos que se formavam em teus pés, e o desenho da tua aura. Há sombras ao teu redor, seriam elas devotas de seu grande amor?

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Tava escrito, eu só precisava ler

De que adianta dizer palavras bonitas se as tuas rimas são só versos pra apagar? Há de perdoar, meu sorriso ficou guardado na boca do meu amor, e apenas com ela posso usar. Com ela eu sei que fica bom, combina. E não vale a pena pensar em outra menina que não a dos meus sonhos, a da minha cama. 
Nenhuma outra é capaz de produzir o mesmo efeito que você. Fico zonza, perco o rumo, faço do telhado das casas papel pra escrever nosso plano de fuga. Às vezes longe, outras tão perto que dá pra sentir teu perfume e ouvir teus pensamentos. Leio meu nome em quase todos.
Danço sozinha, olhando no espelho, procurando o melhor modo de me apresentar pra você. Será que o salão do prédio é bom o suficiente? Se não, posso comprar todas as entradas do teatro e te dar. Posso fechar a rua da tua casa ou até alugar a lua pra te mostrar minha coreografia medíocre.
Não interessa a mais ninguém meu pequeno espetáculo. Eu não sei dançar, danço quando tô contigo. Danço por dentro, e é sempre tango ou samba. Ontem foi valsa, só pra fugir do costumeiro.
Aconteceu o esperado: o começo do teu limite é, também, o da minha morada. 

domingo, 7 de outubro de 2012

Eu sou igual ao seu isqueiro

Levam dois segundos pra química do teu corpo grudado ao meu fazer efeito. Dois segundos e entra em combustão. Não faz sentido desviar a rota já que todas as placas te guiam pro mesmo lugar. 
Tire a camiseta e me mostre o coração. Tua mansidão encoberta pelos panos não me engana, vejo no jeito que tu leva o corpo que a ira ainda faz morada em teu colo. Vou fazer de tuas veias meu livro preferido. 
Me seguiu com teus passos de balé por sobre a linha que separava a areia das pedras. Tua sapatilha fez leitura do solo e de tão leve, me tirou do chão.
Guarda as lembranças numa caixinha de papelão que o teu novo amor fez, e quando se cansa, me procura no porão embaixo do peito. Encapuzada, pés e mãos amarrados, amordaçada, foi assim que me deixou. De mim o que tens é saudade.
Sou como a roda gigante que tu nunca teve coragem de entrar. Menina, sou teu brinquedo preferido. 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

É que o teu francês não me fazia bem

Eu te decifro como se fosse um mapa e te devoro sem deixar migalhas. É tão fácil te enlouquecer.
Deixe de ser tão piegas, tudo tem seu limite e você tem de concordar que eu aguentei demais. Muita poesia pra pouco gesto, e ainda esse teu lirismo equivocado de quem só quer dramatizar. Já chega de viver um conto teu.
O som das tuas palavras bateram na parede e chegaram frio aos meus ouvidos. Meu ponto de vista tem de ser considerado, afinal, não fosse eu, teu caderno amarelo acabaria no lixo com tuas tralhas todas. Tu vai me deixar na gaveta, embaixo da cama ou na mesa do computador.
Tens que parar com essa mania de pensar que está vivendo em Paris. Tua vida não é um roteiro de François Truffaut, nem foi dirigida por Woody Allen. Teu francês é péssimo, e se eu dou risada é do bico que tu faz com a boca quando cisma em cantar Coeur de Pirate. Tu desafina demais, melhor tentar outra coisa. 
É melhor que eu vá, não fui feita pro teu arco-íris, nem pra aquarela que teu otimismo derrubou em mim. Comprei teu cigarro, é besteira dizer pois sei que ele deve estar te guiando através das linhas desta carta. 
Poupe teu pranto, menina, chorar por qualquer coisa só empobrece as lágrimas.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Rabiscos de papel

Escrevo, com giz de cera, cantigas de ninar em portas vizinhas. Se eu pudesse, pintaria o espelho daquela senhora sem doce que mora no 217. Viver ignorando o que se passa ao redor é um suicídio.
Eram três da tarde e o céu chorava. Vi cada gota d'água caindo do alto pra lavar os carros, enxugar lágrimas e aconchegar em seus braços uma multidão de corpos quentes. Desfiz o nó da corda que me apertava o pescoço e fui chover. Fui correr no rio de mágoas que formava a rua e te encontrei numa poça qualquer em que afundei o pé.
Voltei pras palavras cruzadas e te vi, dessa vez numa dessas imagens desconexas de páginas amassadas que a gente só enxerga olhando pequenino. Deixei teu carinho acariciar meu rosto e colocar o cabelo atrás da orelha. Deixe a minha felicidade virar tuas notas de rodapé.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Eu posso tentar ser feliz agora

Fui pra fora e dancei meu dois pra lá, dois pra cá contigo. Tu riu do meu jeito desengonçado e foi ali que te ganhei. Até a chuva resolveu nos acompanhar, deu ritmo aos passos e rendeu uma bela fotografia pra enquadrar na memória.
Saia do sofá e pare de ver esses programas matinais, eles não vão te ajudar. Na tevê não há respostas, vá fumar teu cigarro.
Do meu amor você tem provas, tá escrito nas canções que o rádio não toca. Talvez seja só meu, e as lembranças tuas apenas vício guardado nos fios do telefone. Você desistiu cedo demais, guria, e eu ainda canto pra você. 
Ah, doce Sophia, a crueldade de teus lábios me borrou o batom. Eu te rasguei a roupa, mas só o teu botão ficou sem casa.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Na cama de solteiro

- Quando eu morrer, do que tu vai sentir falta em mim? 
- Teu ombro
- Sério? Tanta coisa pra dizer e tu vem com isso.
- Cala a boca. Esse é com certeza o melhor lugar do mundo pra repousar minha cabeça. É o meu preferido. Além de descansar, ainda ganho carinho das tuas mãos e  beijinho na testa.
- Eu vou sentir falta de alguém pra responder minhas perguntas aleatórias. Alguém que me responda com esse sorriso teu. E também do jeito que você fica quando erra a música que tá cantando. Fica toda bonitinha enrolando, fingindo que sabe a letra.

domingo, 16 de setembro de 2012

Eu sei de cor

Dia desses, perdida em outro diálogo inventado na cabeceira da cama, fiquei lembrando você. É engraçado esse teu jeito que ri pra tudo. Tu fica desesperada e ri. Quer disfarçar o que errou e ri. Quer fugir e ri. Tu ri até pro carteiro que vive entregando correspondência errada e esquece o teu nome. Tu ri pro mundo mas nunca sorriu pra mim. Tu sequer me olha. 
Se a gente chegou até aqui foi porque eu te trouxe comigo, tu nem quis tentar. Saiu da rodoviária, pegou as malas e jogou no chão, se hospedou ali. Sem espaço pra visitas, um lugar longe de mim, onde eu não posso te tocar. 
Teus livros e teu violão, teus acordes e teus versos. Eu e minha solidão barulhenta demais pro amanhecer da noite. Cansei de te ter sem ter, vou te deixar voar.

sábado, 8 de setembro de 2012

Desligo você

Tantos dias sem chover que até a lua se escondeu. Se ela conseguisse me enxergar lá do alto, provavelmente resolveria migrar pro canto do meu olho. Ou pra debaixo dele. Só do lado esquerdo pois o direito já secou.
Na claridade do abajur a cabeça dá nova chance ao pesar. Talvez os olhos enxerguem melhor quando fechados. Me deito sozinha na cama, ouço as paredes e seus conselhos sobre a menina que tanto acompanhou. Não há quem toque a melodia do fim, a trilha sonora do nosso romance dramático com pitadas de humor desafinou. 
Teu olhar de reprovação e tuas frases feitas me fazem lembrar do início e de como era fácil deitar em você. Até o amarelo claro do teu sorriso me fazia florir. Hoje vejo que o doce mar que carrega em teus olhos é salgado demais pro meu café da manhã.
É como levar um tiro no peito e agonizar por dias sem derramar uma gota de sangue. Seria mais fácil se a metáfora fosse outra.
      
                - Tu acha que a gente vai durar?
                - Acho que a gente não passa dessa música.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Lá do horizonte

O maior problema do mundo é a pressa. Pressa pra chegar em algum lugar, pressa pra sorrir, pra chorar, pra sentir. A gente apressa a felicidade e depois fica se perguntando pra onde ela foi.
Não adianta reclamar e ficar sentado de braços cruzados esperando que tudo mude. O que acontece hoje no mundo é reflexo das nossas ações e você sabe. Nós o deixamos assim: doente e com medo de sair de casa.
O que você faz pra limpar a sujeira das almas? Acho que além de latas devíamos reciclar vidas.
Gosto de sorrir pra um desconhecido na rua e ele me sorrir de volta, ruim é saber que nem todos tem o costume de fazer isso. Deve ser coisa de gente grande e eu ainda não cresci.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Do lado direito da cama

- E se eu morresse amanhã?
- Você não vai.
- E se? Não vale ser clichê e falar que vai morrer também.
- Se você morresse amanhã, eu morreria também. Não revire os olhos, quero dizer, eu não morreria literalmente, seria apenas um corpo vagando pela ruas. Veja bem, como é que eu vou ser feliz sem o brilho das minhas manhãs? Pode soar brega mas é sincero. Vou ser só uma velha presa num mundo de melancolia constante. E pare de me olhar desse jeito. Eu viraria uma dessas pessoas que tu encontra na rua com olhar distante de tão amargurado, aquele tipo que ignora a lua e as luzes da cidade. O que mais você queria de mim? Se você morresse amanhã, metade do meu eu perderia o sentido, deixaria de respirar. Eu iria viver apenas pra cumprir o contrato.
- Tipo aluguel de casa?
- Não.
- Apartamento?
- Não, você é mais como um remédio pra mim.
- Então eu sou a tua cura?
- Sim. Até que o efeito passe, daí eu teria que tomar outra dose. Ou comprimido. Sempre prefiro as cápsulas, evita o gosto ruim na boca.
- Mas não há contrato algum nisso, tu se perdeu na metáfora.
- É que eu sou hipocondríaca, por isso te mantenho aqui.
- Se você morresse eu iria pra outro país, um lugar bem gelado, quem sabe os Andes, ou sei lá. Compraria uma casa afastada da civilização e me trancaria dentro dela o dia inteiro. Ia me embebedar todos os dias, escutando nossas músicas preferidas pertinho da lareira pra lembrar da gente. Certamente o porre seria de vinho. Ah, e compraria um gato também, só pelo prazer de ser desprezada.
 - Qual seria o nome dele?
- Pethit.
- Já pensou em tudo né? 
- Tu sabe que eu gosto de detalhes.
- E de mim, você gosta?
- Se você morresse amanhã, não teria uma multidão chorando ao meu redor, seria discreto, tu sabe que eu não gosto de alarde. Provavelmente eu nem iria ao teu enterro. Acho que eu iria sofrer do meu jeito, deitada na nossa cama com tuas roupas, tuas fotos e teu perfume.
- Até o chapéu que você odeia?
- Com certeza eu iria usá-lo.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Esse aqui é pra você

Como proceder se um dia eu te encontrar na rua? Sabe, esbarrar os braços e derrubar tuas sacolas. Te dou um sorriso, um abraço ou finjo que nem vi? Talvez eu deva apenas te devolver as compras.
Não é adeus quando você não está pronta pra partir, ainda assim eu te disse tchau e dei as costas pra uma vida que não vivi. Se não te faço sorrir, que mais posso fazer? Não pense que eu tô feliz com a decisão, é que te quero bem demais pra deixar que alguém te trate mal.
Imagina só provocar o choro de quem eu amo tanto? Não vale a pena brincar de faz de conta e fingir que tá tudo bem. Eu sei que é culpa minha, por isso a porta quem bate sou eu.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Me diz, cadê você aí?

Um dicionário de sinônimos para as palavras repetidas e uma cola para as ideias não fugirem pra outras cabeças. Meus versos continuam espalhados nas paredes desse quarto imundo num hotel barato de beira de estrada, e a luz da rua entra pela fresta da janela pra tentar iluminar teu gosto amargo.
É no apagar das luzes que os morcegos dançam no céu das casas, e é no breu que os anseios adormecem e deixam flores abrir nosso caminho.
Isso que dá abrir os olhos enquanto ainda está sonhando, tu perde toda a frieza que salvou. Pudera eu viver num mundo cego de faróis e surdo de buzinas
Não me deixe por favor, sou leve e ocupo pouco espaço na mala. Me leve como tua bagagem.
Tu me faz sorrir tanto que até desaprendi a chorar. Pois choro de alegria é sorrir com os olhos e a água serve pra lavar a alma. Vou traçar o meu destino em cada linha do teu corpo.

domingo, 22 de julho de 2012

Últimos arredores conhecidos

Algumas pessoas tem essa mania besta de achar que conhecem o outro só por já ter visto seu olhar. É preciso bem mais que os olhos pra adentrar uma alma.
Me canso disso, dos dedos apontados pra tudo quanto é lado. Ninguém olha o reflexo na poça d'água, não são capazes de conviver com seus defeitos e então, covardemente, tentam fazer com que todos ao redor vivam infelizes.
Vivo dentro dessa bolha de sabão que estoura nos olhos, raros são os dias em que o mar de bocas me deixa nadar. Somos formigas queimadas por um menino malcriado e sua lupa.
Não deixe o sol te cegar, tua alma é bem mais que um corpo só.

domingo, 15 de julho de 2012

You smile, I smile também

Vou roubar a lua pra te dar. Sem embalagem ou cartão, colocarei apenas um laço vermelho pra você saber que o presente é meu. A lua é bonita por si só, não precisa de enfeites, contudo, um laço vermelho não a deixaria ruim. 
Não vejo nada aqui na terra pra te dar. Nem brinco, colar, camiseta ou anel, é tudo pequeno, sem valor, sem conteúdo, como um pontinho cinza numa imensidão de azul anil.
Eu quero te dar meu sorriso, meu carinho atrás da tua orelha, minha cabeça no teu colo enquanto tu deita em mim. Quero te acordar com flores e cheirinho de café logo cedo, antes de ir trabalhar, e te convencer a usar os óculos que tanto precisa. Eu vou aprender a cozinhar só pra poder te prender a noite em casa, e no almoço vou te levar pra um restaurante qualquer, desses bem ruins que vão te fazer apreciar a minha comida.
Vamos enfeitar nossa casa com aqueles objetos retrô das lojas que a gente gosta, ter o nosso cinema particular e nossa estante de discos.
Essas pequenas coisas que sem você não teriam sentido algum. Afinal, quem é que vai dividir as batatas do mcdonald's comigo?

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Memórias gravadas feito em folhas de jornal

Pegou o sorriso e guardou no canto da parede, em contraste com o passado que carregava. Não sabe lidar com a raiva, ela vem e explode feito um vulcão. Talvez goste de brincar com a morte.
Nada de cortes retos, prefere o zigue-zague que a lâmina faz naturalmente, como se abrisse um caminho para o vermelho apagado escorrer. Só mais algumas gotas. 

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Meio que inacabado quase no fim

Tem muita cor no teu preto e branco, dá pra pintar o céu e as pessoas. Dá pra pintar tuas camisetas brancas e até colorir aquele livro que a minha irmã comprou. Os muros da cidade continuarão cinzas, nos foi proibido ultrapassar os limites da calçada.
É sexta-feira e eu tô sentada no sofá, pensando em palavras pra encaixar nessa frase sem vírgula ou ponto de exclamação. Pra preencher o meio de outro parágrafo e não deixar um buraco enorme nessa construção que agora teus olhos sussuram. Minha alegria não acaba só por aparentar desalento. 
Finjo que me escondo e brinco de correr entre as árvores do parque. A gente pode dançar no arco-íris que eu pintei na parede daquela casa abandonada que fica no fim do quarteirão, ou deitar no chão e brincar de descobrir desenho em nuvens. Só não quero ficar presa na monotonia do domingo.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

E só bebia pra esquecer

Por que perder tempo contando as horas se o que importa não tem relógio?
Vejo amor brotando e danço ao som que o teu ritmo produz. Saí do meu corpo e me distanciei do ruído provocado pelo trançar das pernas. Sou metade de um inteiro dividido em dois. 
Trechos soltos de um livro em branco, versos inacabados esperando a tinta da cabeça secar. Não sei bem onde me perdi, ainda tento encontrar os pedaços de vidro que me cortaram a pele. As gotas de sangue que espalhei pelos quartos, quadros e o porta-retrato que eu te dei. 
A saudade é agridoce e tem aroma azedo, a minha estragou e nem chegou o final de semana. Grito pra perder a voz e calar o que ninguém escuta. 
Um copo na mesa pra deitar e uma garrafa vazia, o resto fica pra depois. Deixo pro amanhã a tarefa de me curar.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Dona desse eu

"Oi pretinha, coisa mais linda do mundo é ter você pra mim, ter você do lado. Não posso segurar tua mão mas tô te olhando. Essas pessoas não entenderiam o nosso amor, elas são amargas demais.
Tu deixa meu sorriso tão alegre que não cabe mais em mim, tive que dividir contigo. E como é bom não ser só uma."

Escrevi esse bilhete no teu caderno do Snoopy, com minha letra pequena e difícil de entender. Tu me agradeceu com um sorriso e se escondeu atrás das mãos, quase vermelha de vergonha. Cê tava tão linda e eu nem pude te beijar.
Tu diz que é brega mas quem escreve os versos repletos de clichê sou eu. O que você vê é só o reflexo do teu cuidado, e ainda acho pouco perto do tanto que você me faz.
Vou ser roteirista e escrever um filme sobre a gente. Sem vilão nem mocinho, vou me inspirar nos meus sonhos e te levar pro mundo que eu desenhei pra nós. Chegando lá, deito teu corpo no meu e te faço carinho no cabelo até dar nó.

terça-feira, 5 de junho de 2012

De tanto o céu desabar

É bom sonhar acordada, a mente voa longe e o vento devolve muito mais do que podemos enxergar.
Me tranquei no quarto pra pensar um pouco e deixar a vida lá fora. Descobri que não gosto de respostas rápidas nem letras maiúsculas, e que prefiro dias nublados à dias de sol, gosto da melancolia que esse clima traz. Se engana quem pensa que a melancolia é sempre triste, às vezes lágrimas são mais alegres que sorrisos.
Não se pode forçar uma lágrima, a menos que tu seja uma atriz de novela ou cinema. Sou a rainha do drama, choro de alegria, tristeza, de saudade e até sem motivo. Se tornou um hábito, sabe? As lágrimas se convidam, não batem na porta, só vão entrando. Não dá pra recusar a visita. Não dá pra fingir. Já o sorriso é fácil, é só puxar a boca prum lado, ou pros dois se preferir. Todos fingem sorrir, eu mesma vivo fingindo ser feliz por aqui. 
Além disso, dias chuvosos combinam com tudo: café; chá; filmes; livros; cama; rede; Chico; Tiê; Cícero. Se bem que pra mim Cícero combina com tudo, até com carnaval.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Conversas de sofá

"Pobre não pode sonhar, pobre não tem final feliz". Essa frase vai me atormentar a vida toda. Tu não sabe medir a força das tuas palavras. 
Tem migalhas de pão pelo caminho e gotas de sangue na sala. Tu ri pra tevê enquanto tenta se convencer de que a novela das oito é vida real. Seus olhos cansados de enxergar os mesmos rostos zangados, se fecham e te jogam no mundo. 
Fala sozinha, discute com as paredes, conversa comigo, desvia o olhar, perde a paciência e me ignora. Usa a bebida como desculpa pra ser uma completa imbecil com todos, não pede perdão pois considera coisa de gente fraca. Não acredita no amor, nunca foi feliz e nem quer ser, prefere se afogar em outro copo de cerveja.
De tanto errar, um dia a gente cansa e para de contar.

sábado, 19 de maio de 2012

Pra começar a colorir

Quando eu era mais nova pensava minha vida como uma novela, brincava de fantasiar meus sonhos antes de ir dormir. Hoje sou um livro, quase sempre de romance. 
Dia desses fui no bar da esquina comprar cigarro, tava me fazendo falta a nicotina. A alegria de tragar meus problemas e ver a fumaça os levando pra bem longe de mim. Voltando pra casa eu mais parecia uma criança de sete anos tentando me equilibrar no meio-fio. Fiquei rindo só de imaginar o que você faria se me visse assim.
Sabe, eu tava aqui com as pernas na parede e olhando a tevê, deitada na cama. Não me pergunte o que tá passando, a televisão sempre foi minha saída pra não ficar tão sozinha. São duas e treze da manhã, deve ser Jô. 
Radiohead no fone e a caneta na mão, só o caderno pra aguentar essas noites de insônia. Tá escuro aqui, duvido que tu irá entender minha letra. Ninguém vai ler esse rascunho.
Meus olhos estão ardendo e eu tô sem crédito pra te ligar. Acho que vou aceitar teu conselho e ir ao médico, mesmo sabendo que o meu remédio mora no último andar de um prédio na cidade vizinha. A guria dos dedos tortos e pintinhas na mão. Daqui a pouco tu se muda comigo pro térreo, pois tenho medo de elevador e odeio ter que subir escadas.
A gente é tipo o Camelo e a Mallu, sabe? Talvez um pouco diferente. Tu tá aprendendo teclado e eu aqui rabiscando umas letras. Me sinto meio Marcelo e Mallu, só a parte do amor. Eles são o casal mais lindo do mundo, nós somos o segundo. Falta um tanto mas a gente chega lá.
Desculpa as bobagens que eu disse, tô aqui cuidando dos teus sonhos pra garantir que tu durma bem. São duas e trinta e nove, o Jô já foi embora e agora eu vou dormir.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Olha as flores que eu trouxe pra você, amor

Hoje acordei com vontade de te ver. Já são dez dias sem você e eu tô enlouquecendo. Abri os olhos e só o que eu queria era o teu corpo quentinho colado no meu, teu cabelo macio pra eu dedilhar. Cadê você pra dividir o travesseiro?
A gente briga, ri e chora. E ri de novo. Não entendo muito bem o que é felicidade mas sei que tu pode me ajudar.
Quando você não tá aqui eu fico lembrando dos nossos momentos juntas. Guria, o sorriso que tu me coloca na boca é tão grande que dá pra ver de longe. Culpa tua essa minha alegria, nem o mau humor da minha mãe me tira o brilho dos olhos. Tu é meu porto seguro.
A lua tá tão linda hoje, já olhou pra ela? Pede licença pro professor e corre pra janela, fala que é pra lembrar de mim. 
Eu tô aqui contando as estrelas e ouvindo SoKo, esperando tu chegar da faculdade e me ligar. Pode mandar sms se quiser, contanto que tu chegue logo que a saudade tá me matando.
Esbarrei no teu corpo, adivinha só? Me rendeu outro texto. Vai pra tua coleção, pretinha.                      
                
                      "If I take your heart, it's forever close to mine"

quarta-feira, 9 de maio de 2012

E agora o amanhã, cadê?

Pensei que já era noite e fui praí descansar, me deparei com portas e janelas trancadas. Fui pra calçada ensaiar nossa briga, só lembrei do teu colchão. A gente sabe da verdade só não quer acreditar, e eu não entendo a minha sina de gostar de quem não me quer bem. Me escondo atrás da covardia que a tua mentira conta. 
Andei te procurando nos espelhos da casa, só te achei numa moldura que deixei atrás dos livros de receita. Não queria te achar tão fácil assim.
Não é insônia, a madrugada tem o costume de deixar as palavras mais bonitas, talvez seja a falta de lucidez que o sono traz. Isso sempre me ajudou a falar de você.
Eu só tenho um copo d'água e uma televisão sem sinal, você tem uma voz pra aquecer teu ouvido. Não é cíume, são sentimentos entalados que resolveram soltar da garganta e rabiscar o restante do corpo com versos por acabar.  
Me fez bem esvaziar a estante.

  Posso te pagar um café enquanto o táxi não chega? O isqueiro tá no bolso esquerdo da calça, tem um bilhete no direito. Só leia quando sentir falta de mim.
                                   Que seja daqui a três minutos, por favor.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Sete e vinte e dois

É estranho dar vida a um sonho que nem mesmo fui capaz de sonhar. Dias atrás me disseram que a felicidade é medida em cifras depositadas no teu bolso e que um sorriso não vale um centavo.
Aqui do alto eles me parecem tão iguais, não sei em quem devo acreditar.
Sentada em meio a multidão que nada além de seu próprio ego consegue ver, estou aqui a observar. Poucos são os que me retribuem o olhar.
O casal ao lado parece interessado na menina de fone de ouvido que tanto fala, olha e ri sozinha, que só traz consigo seu caderno e um amontoado de palavras pra encaixar. Ela faz malabarismo com a caneta enquanto brinca de escrever.
Paro o relógio e fico a apreciar o azul quase que perfeito lá do céu, não fosse a nuvem que de branca já tomou o cinza das ruas. 
Os olhos vizinhos resolveram se mudar de mim, cansados de tentar entender a menina de caneta preta. Eu também cansei.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Na varanda

Sabe quando o coração parece gritar dentro do peito? O meu tá dizendo que te ama e vai transbordar. É brega, eu sei, mas se te arrancar um sorriso já valeu a pena.
Todos os caminhos errados que trilhei me fizeram chegar até aqui. E eu poderia te olhar a noite toda que não me cansaria. Me deixa fazer parte do teu futuro?
Amor, eu tô aqui sentada no sofá olhando nossa foto, lembrando nossa tarde, nossos planos, nosso futuro relógio. Eu tô sorrindo e é pra você, cê tá me vendo daí? Eu tô chorando e é de felicidade, minha menina.
Quero nossa casa com nossos discos, nossos móveis, nossos livros, nossos filhotes, nossos filmes, nossos sorrisos, nossos beijos, nossos olhares, nossa cama, nosso amor. Meu lugar é ao teu lado.
Minha linda, vou te acordar todo dia com café na cama e uma xícara de beijos bem dados.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Virando a esquina

É hora de seguir em frente, você e eu. Essa é a última vez que escrevo algo sobre ti. Já não existe nós, somos folhas arrancadas do caderno que nos acolheu.
Não há lágrimas nesse adeus, você já me deixou partir. Eu te tirei do lugar, me encontrei em outro alguém e de lá não saio mais. Não há motivo para músicas tristes continuarem a tocar.
Sinto saudade de como a gente era antes disso tudo, antes de deixarmos um sentimento ilusório entrar e bagunçar a gaveta. A casa estava arrumada mas esquecemos de trancar a porta.
Somos restos inteiros de uma metade que não deu certo, fomos instantes pequenos de um álbum repleto de canções de despedida. Hoje somos estranhas conhecidas atravessando a rua por entre os carros para evitar um olhar. 

sábado, 31 de março de 2012

Clareia minha vida, amor

Você que me devolveu a voz, trouxe de volta o canto.
Você me deu teu colo, me roubou o pescoço e fez dele tua moradia.
Você que me roubou os sonhos, tirou de mim o pranto.
Hoje é tudo teu, é nosso. Sempre foi você, até quando não era.
Fecho os olhos e vejo um lindo raio de sol atravessar a cortina do nosso quarto, enquanto te acordo com um beijo e te tiro da cama. A noite te levo pra varanda, gosto de ver a lua contigo, contar as estrelas enquanto dividimos um canto na rede.
Pois é, agora tu sabe o que acontece no meu mundo de sonhos. E nem preciso dormir, é só lembrar você pra nossa realidade imaginária se aflorar no pensamento e quando dou por mim, tô no teu mundo e não dá pra colocar os pés no chão.
Vê se não ocupa todo o espaço dessa cama de solteiro que eu tô indo aí deitar contigo.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Baby, I'm sure

Esbarro no teu corpo guardado num canto do meu, tu me prepara um café e puxa a cadeira pra se sentar. Tomo teu beijo como desjejum, tu abre o sorriso e me morde o lábio. Dá pra sentir teu perfume pela casa inteira.
Vou te trancar no meu quarto, deitar você no colo enquanto a chuva cai lá fora, usar teus braços como escudo pros trovões que tanto me assustam. Mallu, Cícero, Tulipa, Camelo, e tantos outros, irei sussurrar todo dia em teus ouvidos, enquanto te faço carinho e te prendo mais em mim. 
Vou te olhar a noite toda, te deixar com vergonha, te fazer rir e me encantar ainda mais com teu riso meigo. Quero pegar tua mão e não mais soltar.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Éramos nós dessa vez

É engraçado ver como tuas barreiras crescem e se modificam. Teu mau humor ficou pra trás, hoje você se esconde atrás dessa maquiagem borrada e de umas garrafas de bebida, quase se esquece de mostrar o lindo sorriso que já me conquistou um dia. Me lembro da nossa primeira conversa, da minha primeira certeza. Não gosto muito de lembrar do que deu fim ao nosso pra sempre, talvez por isso ainda sinta tua falta.
Saudade não tem nada a ver com merecimento, você esteve presente em grande parte da minha vida, é impossível vir hoje e dizer que não sinto nada. Na verdade, tu faz parte de um pedaço que eu não vou apagar, independente do que houve entre nós. É tudo bem maior do que você e eu, do que o tempo fez acontecer, é algo que não dá pra colocar em palavras e você sabe. 
Canto bem alto, quase gritando, pra tentar alcançar o teu ouvido e te fazer entender tudo o que eu não falei.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

De tanto fingir

Não quero acordar e ter de lidar com a realidade, nos meus sonhos é tão mais fácil ser feliz. Fiz de você meu sol, hoje não tenho como me aquecer.
Mais um dia recheado de tédio, e eu tentando me livrar de coisas que me lembram você. Fotos, textos, músicas. Gastei minhas melhores músicas contigo. Você não tem mais.
Me esqueço de ti a cada trecho que te lembro, falo tanto sobre nós que um dia me canso e te apago de vez.
Não choro tua ausência, nem tento preencher a lacuna que as quatro letras deixaram aqui. Deixo o vento te levar pra longe, deixo estar que só o tempo cala tudo.
Vou forçar o riso pra ela rir de mim.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Pega a solidão e dança

Meus olhos continuam vidrados numa direção bem além do que consigo enxergar. O sol lá em cima brinca de se esconder atrás das nuvens. Vem chuva por aqui e não tenho papel pra secar tanta água.
A tinta da caneta preta tá acabando e ainda não achei rima boa pra fazer com teu nome. Você não pode ser azul, vermelho ou qualquer outra cor, só o preto lhe cai bem.
Queria musicar algo sobre o que aconteceu sem a melancolia dos meus textos cansativos. Queria fugir da mesmice escrita nesse caderno, vivo de um assunto vago e já usei todas as palavras que tenho sobre ele. Meu vocabulário é limitado.
Já te rasguei de trechos aleatórios em textos imensos que tenho na cabeça, chego aqui e eles se colam. Coisa chata que não sai da caneta.
Será meu desânimo efeito teu ou do remédio?
Eu até quis brincar de escrever sobre você, fantasiei todas as mentiras e transformei nesse carnaval de ilusões. Esqueci que não sei sambar.

domingo, 8 de janeiro de 2012

So take this love, take it down

Caneta na mão, uma folha em branco esperando pra ser usada, o sentimento aflorado e eu aqui, sem saber o que escrever. Não sei descrever o que tá acontecendo, só sei que a culpa é tua.
Essas lágrimas que ficam a passear por meu rosto, essa depressão repentina que me vem toda noite quando lembro de ti. Noite, dia, é só a cabeça ficar vazia pra você me visitar. Preciso de um novo passatempo.
É difícil dizer pro papel a dor que você me traz depois de tantas alegrias que já contei aqui. Às vezes penso que tudo isso é um sonho ruim e que a minha menina vem me acordar. Não entendo porque você foi buscar em outra boca o que podia encontrar na minha.
Guardei meus melhores beijos, pensei meu futuro ao lado teu. Você destruiu meus planos. Deveriam ser os teus também. É horrível saber que vivi uma mentira e que mesmo assim ainda te quero.
Sei que não vou conseguir te apagar de mim, só quero aprender a viver contigo no peito, com esse buraco que não quer cicatrizar.
Vou te sentir de longe outra vez.