domingo, 23 de junho de 2013

De trapos limpos

Faço de mim berço pro poeta bêbado-vagabundo que decidiu morar na rua e fazer da lua seu abajur. Levava consigo indagações sobre o que foi e quem era (mas deixava suas escolhas decidirem o que seria), uma caneta que nunca falhava, um pequeno caderno e o peso do céu.
Vomitava versos de amor não correspondido e entregava flores aos transeuntes. Gostava de conversar com os pombos e bater as asas, fingia ser um deles quando se sentia só. 
De agasalho cinza surrado e sorriso grudado na boca, estampou a primeira página do jornal da cidadezinha. "O louco que mendiga carícias" dizia a manchete.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

E o resto é chorar

Preparei pro jantar toda a amargura que me afoga o peito. Sentei-me no jardim e devorei um prato cheio. Deixei o rádio ligado e ele insistia em cantar "eu amo você", como quem diz pro mundo não esquecer de sorrir. Dos olhos quase secos vieram lágrimas choradas num adeus sem tchau, sem abraço dado. 
Lembranças tuas eu guardei num cesto de solidão e mandei incinerar. Tua imagem não ganha forma, são traços turvos que a memória às vezes traz. Algum dia me descuido e deixo o vento varrer de mim as cinzas que ainda sobraram de nós.
Meu bem, amor requentado não vai curar o que você me fez.

sábado, 1 de junho de 2013

Depois

Sou um fantasma vagando pelos bares. Não causo medo, só espanto companhia. Provoco tédio e bocejo. Provoco tua ira, teu lado ruim. Te provoco e corro.
Meu coração de passarinho bate mais rápido que as asas do beija-flor. Pontiagudo, me furou o peito. Mostrou em mim espaço que tua presença deixou. Faço desenhos e rimas dentro do vazio teu, versos sobre o que a gente foi e o que devíamos ser. Versos de solitária pra você dar o nome.
Me olho no espelho, respiro, fecho os olhos e murmuro um pequeno faz de conta. Uma mentira contada várias vezes é capaz de persuadir.