domingo, 18 de novembro de 2012

Gota pesada que acaba no queixo

Alegrar a gaveta repleta de jornal não parece boa ideia, Sophia prefere inundar a toalha da mesa. Sempre chora quando a dor não cabe mais, e é tão frequente que ela até perdeu as contas. Guardava tudo no bloco de notas que o avô lhe deu no natal. Sua mãe o jogou fora na faxina do último fim de semana, não compreendia a poesia contida nos pequenos pedaços de branco.
Agora que seu pequenino companheiro havia se perdido no lixo, usava qualquer espaço vazio pra preencher com suas escritas, inclusive a própria pele. Sem perceber, rabiscou o braço do melhor amigo e também o de um desconhecido que dividia o banco do ônibus. 
Apesar de pequena, não se encaixava em lugar algum. Cansada de se esquivar pra não cair em becos alheios, resolveu deixar suas histórias para outras bocas. Partiu levando apenas o que o corpo carregava, foi procurar algum centímetro que a agrade. Sem se despedir pra não sentir o gosto do não. 
Cabeça e ombro a disputar, será que a linha de chegada é o ponto final?
Toda noite antes de dormir, Sophia cantava baixinho pros monstros escondidos no armário (e embaixo da cama) não ouvirem:  

"Se essa casa, se essa casa fosse minha / dentro dela você não morava não / pois aqui, pois aqui só habita / quem consegue sorrir com o coração."

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