terça-feira, 21 de agosto de 2012

Do lado direito da cama

- E se eu morresse amanhã?
- Você não vai.
- E se? Não vale ser clichê e falar que vai morrer também.
- Se você morresse amanhã, eu morreria também. Não revire os olhos, quero dizer, eu não morreria literalmente, seria apenas um corpo vagando pela ruas. Veja bem, como é que eu vou ser feliz sem o brilho das minhas manhãs? Pode soar brega mas é sincero. Vou ser só uma velha presa num mundo de melancolia constante. E pare de me olhar desse jeito. Eu viraria uma dessas pessoas que tu encontra na rua com olhar distante de tão amargurado, aquele tipo que ignora a lua e as luzes da cidade. O que mais você queria de mim? Se você morresse amanhã, metade do meu eu perderia o sentido, deixaria de respirar. Eu iria viver apenas pra cumprir o contrato.
- Tipo aluguel de casa?
- Não.
- Apartamento?
- Não, você é mais como um remédio pra mim.
- Então eu sou a tua cura?
- Sim. Até que o efeito passe, daí eu teria que tomar outra dose. Ou comprimido. Sempre prefiro as cápsulas, evita o gosto ruim na boca.
- Mas não há contrato algum nisso, tu se perdeu na metáfora.
- É que eu sou hipocondríaca, por isso te mantenho aqui.
- Se você morresse eu iria pra outro país, um lugar bem gelado, quem sabe os Andes, ou sei lá. Compraria uma casa afastada da civilização e me trancaria dentro dela o dia inteiro. Ia me embebedar todos os dias, escutando nossas músicas preferidas pertinho da lareira pra lembrar da gente. Certamente o porre seria de vinho. Ah, e compraria um gato também, só pelo prazer de ser desprezada.
 - Qual seria o nome dele?
- Pethit.
- Já pensou em tudo né? 
- Tu sabe que eu gosto de detalhes.
- E de mim, você gosta?
- Se você morresse amanhã, não teria uma multidão chorando ao meu redor, seria discreto, tu sabe que eu não gosto de alarde. Provavelmente eu nem iria ao teu enterro. Acho que eu iria sofrer do meu jeito, deitada na nossa cama com tuas roupas, tuas fotos e teu perfume.
- Até o chapéu que você odeia?
- Com certeza eu iria usá-lo.

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