sábado, 27 de dezembro de 2014

Meus olhos, tão cansados, não querem mais te ver. Se entortam só de ouvir tua gargalhada do outro lado da rua. 
Meus olhos que já perderam noites a tua espera, hoje seguem sua rotina e descansam às 22h. 
Meus olhos, tão tristes, miram a esquina mais próxima e já pensam na conta do bar.

terça-feira, 25 de março de 2014

Desalento

Meu coração dói e tenta rasgar o peito, não consigo respirar. O que tenho é físico e real. Isso não é poesia, é o meu epitáfio.
Há um barulho melódico atravessando a rua e emudecendo meus pensamentos. Não os ouço há muito tempo, tua ausência ocupa grande espaço em minha mente. Tua tristeza pesa demais e eu perdi a capacidade de me entender. Sinto ter esgotado cada gota do que poderia expressar.
Anoto o que sou capaz de ouvir: conversas emprestadas em mesas vizinhas, amores emprestados de corações amargurados que encontro nas esquinas.
Nada disso aqui é meu, nem mesmo o nome. Me tornei poeira dos corpos que desejei.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Autorretrato

A cigarra canta e eu na varanda continuo a fumar. Deslocada, testemunho o vento quebrar na parede e ecoar pelos canos. Os olhos dela permanecem vidrados no celular. Não a culpo, estou trancada no meu próprio mundo. Imersa numa teia de egocentrismo que me impede a aproximação. Já não sei falar sobre o amor, nem sobre qualquer outro assunto. Me sobra tempo, me falta vida. Na verdade o que falta é vontade de viver. Me usam como artefato de espanto, sou assustadoramente vazia. Costumo aparentar apatia, descaso com o sentimento alheio. Sou inofensiva, apesar de tudo. Idealizo pessoas, seus defeitos, conversas e até mesmo decepções. É um exercício rotineiro. Observo e analiso comportamentos. Não pra me sentir superior (me falta autoestima pra isso), o faço pra tentar entender um pouco mais a respeito dos que me cercam e a mim. Fujo de interações sociais, prefiro ser espectadora ou mera vírgula em histórias diversas. Meu único trunfo é escrever. Escrevo porque gosto, não por obrigação. Não espero que alguém leia e se identifique com isso. Escrevo porque foi essa a maneira que encontrei pra esvaziar. E é sempre bom desabar num caderno amigo.