domingo, 25 de novembro de 2012

Pra te encaixar na horizontal de minhas palavras cruzadas

No sereno calado faço serenata de palavras no teu par de ouvidos, enquanto meus dedos te carinham o rosto. Se tocar samba no rádio você me acompanha? Sambar a dois é bem melhor que sozinha.
Quando a amargura preenche, me embalo ao som do tango. Tango de um pé só, sem tocar o chão. Tango que na rua o moço tocou.
Roupa amassada me servindo de lençol, você enciumada balançando no varal. Tua voz dita o fim pros devaneios dentro do extenso campo de rosas mortas. Eram espinhos disfarçados de alegria.
Fiquei cega com tanto barulho, tuas pernas resolveram abrir caminho em busca da saída desse labirinto de uma estrada sem fim. Um corredor interno, estreito feito o centro da cidade. Fruto das abreviações de um tempo morno, raso, cheio de atalhos em becos sem sinalização.
Teu corpo me tirou do sofá, avermelhou minhas linhas, fez poesia. Rima boa, bonita feito canção de mpb.

sábado, 24 de novembro de 2012

Baile de máscaras na calçada do norte

Guarde teu pranto e te acalme, pois a avenida das flores partidas num bloco qualquer há de findar. E, menina, se esse carnaval enfim começar, tua fantasia mesquinha e sandália de salto alto por peitos de corações fechados irá sapatear. Cambalear ferida no meio de dores e fortes interpretações dos que se deixaram levar por tantos amores e horrores, que só teu copo de cerveja sabe contar.
A alameda de lágrimas do bar embaixo da árvore no quintal de casa é lar dos desvairados, desacreditados, bêbados encharcados por seu próprio vômito e sonhadores alcoolizados de angústia, que tanta história tem pra ouvir e plagiar em cadernos guardados na escrivania.
Solo de guitarra, cavaquinho e pandeiro no disco que a vitrola toca, e teu óculos escuro examina diante da multidão fedorenta e sedenta por sangue. 
Toque gaita, feche os olhos e deixe pra lá. Amanhã o sol retorna e teu quarto escuro, repleto de ingratidão, terá porta aberta para a latente solidão que corta te fazer jorrar.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

E o show ainda nem chegou na metade

E dá pra ser inteira quando te engolem a vida? A saudade me bate o dia todo, minhas olheiras podem comprovar.
Sabe aquilo de deixar livre quem você ama? Então, foi o que fiz. Minha mão te apertava demais e meus calos te machucavam. Te soltei mesmo sabendo que eu iria precisar, não queria que tudo o que a gente criou virasse lembrança ruim. Hoje nem lembrança vou ser. 
Meu bem, sei que não voltarás, mas dentro de mim você vai morar pra sempre. Prometi tua paz e assim será, mantenha o sorriso que daqui conseguirei ver. Estaremos distantes outra vez.

domingo, 18 de novembro de 2012

Gota pesada que acaba no queixo

Alegrar a gaveta repleta de jornal não parece boa ideia, Sophia prefere inundar a toalha da mesa. Sempre chora quando a dor não cabe mais, e é tão frequente que ela até perdeu as contas. Guardava tudo no bloco de notas que o avô lhe deu no natal. Sua mãe o jogou fora na faxina do último fim de semana, não compreendia a poesia contida nos pequenos pedaços de branco.
Agora que seu pequenino companheiro havia se perdido no lixo, usava qualquer espaço vazio pra preencher com suas escritas, inclusive a própria pele. Sem perceber, rabiscou o braço do melhor amigo e também o de um desconhecido que dividia o banco do ônibus. 
Apesar de pequena, não se encaixava em lugar algum. Cansada de se esquivar pra não cair em becos alheios, resolveu deixar suas histórias para outras bocas. Partiu levando apenas o que o corpo carregava, foi procurar algum centímetro que a agrade. Sem se despedir pra não sentir o gosto do não. 
Cabeça e ombro a disputar, será que a linha de chegada é o ponto final?
Toda noite antes de dormir, Sophia cantava baixinho pros monstros escondidos no armário (e embaixo da cama) não ouvirem:  

"Se essa casa, se essa casa fosse minha / dentro dela você não morava não / pois aqui, pois aqui só habita / quem consegue sorrir com o coração."

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Tantos caminhos possíveis depois que o sol já se foi

São muitas ideias pra um banco só, muita fumaça inundando a cabeça, buscando lugar pra escorrer. Vai vazar pelos ouvidos e carnavalizar por aí. Se quiser conhecer os demônios que me atormentam, deixe janelas e portas abertas.
O sopro do vento bagunça o cabelo e afasta o afago fraquejado da palma das mãos. Esperei por tempo demais, meu bem, a brisa veio e te levou pra outros galhos. Te fiz leve, te fiz verde, porém longe de mim vais amarelar. Irá cair um tanto além da sombra que cobre o campo.
Menina das páginas embranquecidas, sofro de um enorme bloqueio nas cordas vocais quando longe de ti. O canto dos pássaros que brilha com a manhã não satisfaz, me acostumei com o grave oriundo de teu ego, com as ondas sonoras vindas de teu abismo pessoal.
Menina dos pequenos traços preenchidos de marrom claro, quase cor da pele, isso aqui não é um texto sobre amor. Menina, esse texto é sobre algo que perdemos em meio aos fios enrolados de celulares desligados. Você, eu, e a caixa postal.