domingo, 14 de abril de 2013

Ecoa

Se a leveza de seus pés soube se esconder, onde se fixou? Diz-me o que fazer, me perturba ouvir o choro quieto de seus movimentos a noite inteira.
Com o desenrolar dos fios ninguém te alegra, ninguém te pune, ninguém te assombra. Você nota que os teus medos se esvaíram, tornaram-se pó escondido embaixo da mobília velha. Não mude nada de lugar.
Foi feita em página rasa uma sinopse de tudo o que já viveu: analogias banais e palavras retiradas do dicionário para que você pareça ser bem mais do que realmente é. Você não passa de uma mentira bem estruturada.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Dois passos e alguns centímetros mais

Infindável sonho preso atrás das grades do cotidiano. Parada no sinal vermelho que não quer esverdear busco alento para os pulmões deficientes. Nas minhas veias corre sangue morto, nas ruas sobra apatia. Onde essa estrada cheia de buracos vai findar? Ilustro os dias neste diário com letras de cabeça pra baixo.
Estava deitada enquanto ela assistia tudo encostada na porta do quarto. Me observava cair num plágio do vazio existencial, uma overdose de abutres falantes e bitucas de cigarro. Eu fitava os olhos dela como se fossem minha cura.
Nunca vi o mar, nunca pulei sete ondas no réveillon, nunca fiz oferenda pra Iemanjá ou senti areia nos pés. Nunca vi o sol nascer ou se pôr, nunca agradeci por mais um dia. Eu nunca rezei antes de dormir.
Quando se está à beira do abismo e tua vida vira um curta resumido em quinze minutos não se sente tanta esperança no peito. Não existem mãos pra te segurar. É só você e o grande eco do teu grito.