sábado, 27 de outubro de 2012

Guarde seus balões pra outra festa

Estava descalça, queria sentir o chão, mas mais que isso, queria fazer parte dele.
- Ela é linda, mas completamente louca. Onde já se viu ser feliz desse jeito? Dizem os reis do mundo. Estreitados pelos galhos de seus corpos, enfurecidos, pois a menina do vai e vem de pernas não os ouvia. Era cega e surda no mundo dos cheios de si.
O barulho de seus saltos faz eco por entre os corredores das ruas. Os donos de tudo não se permitem contagiar, são falantes e entendidos demais pra compreender a linguagem do som. É a angústia que permeia seus pulmões, seus sonhos tem prazo de validade. Só fazem cobrar juros e derrubar em costas alheias o fardo de suas escolhas. Suas consequências nunca geram atos.
A garota dos cabelos cor de fogo pouco se importa, continua a exibir-se no meio da multidão. Com a lâmina afiada de seu verde esmeralda passeava por meu corpo e me deixava nua. Da ponta dos pés até o abraço dos olhos. Sem roupa e sem a carcaça que me cobre os órgãos. Quase toquei cada centímetro de sua branquidão. 
Perdoa-me a vestimenta, o linguajar e até o olhar bagunçado, perto de tua desenvoltura me vi acanhada, minúscula.
Fiquei a te observar por entre os pequenos espaços deixados pelos críticos curiosos. Sei que há mistérios escondidos dentro de teu sorriso inteiro. Ninguém sorri inteiro, sabe? São sempre trechos bons que escapam pela boca e duram meios segundos. Nenhum se prolonga por mais que isso, e o teu durou a noite toda. Não te cansou a boca?
Lembro de te ver chegar e pensar que tua palidez seria incapaz de emitir sentimento algum. Com toda a minha cor, julguei teu ser através das tabelas, sem entender que às vezes as melhores coisas vem sem manual. 
Antes da contagem regressiva que antecede o brinde final, não pude deixar de notar os calos que se formavam em teus pés, e o desenho da tua aura. Há sombras ao teu redor, seriam elas devotas de seu grande amor?

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