Homem feito, se
alimentava de esperança em dias seguintes. Acreditava não ser o único a tentar
mudar visões distorcidas pela sociedade. Guiava a vida com crenças num mundo
melhor.
Ele ia a praia
construir castelos de areia pro mar destruir. Ria sozinho e conversava com as
ondas. Adorava chuva pois logo depois o arco-íris pintava a paisagem. Agradecia
a Deus por não tê-lo feito de barro. Tinha alma e coração, e não se esquecia
disso.
Caminhava pelo centro
da cidade e se sentia infeliz por ver tantos prédios no alto do céu. Mais
infeliz ainda, pelos amigos que não conhecia presos nos escritórios atrás das
janelas. Preferiu não aprender
a dirigir, pedalava pelas ruas pra sentir o vento secar o suor da camisa e as
lágrimas do rosto.
Lembro bem do dia em
que Seu Zé não apareceu na livraria. Lembro da semana inteira sem ouvir sua voz
carinhosa. Lembro de minha mãe dizendo que ele havia ido pro céu conversar com
os anjos. Lembro de pensar que Deus era muito egoísta por tirar de mim meu
melhor amigo.
Quando vi Seu Zé todo
pálido e de terno preto, não acreditei que era ele. Sorri e comecei a pensar
"Eles estão me enganando, deve ser outra brincadeira do Zé". Minha
mãe disse que era desrespeitoso sorrir em enterros, e que eu devia me despedir
do dono da livraria. Quando olhei pra ele logo vi seu sorriso dócil e pensei: Deus, teus dias agora serão maravilhosos. Só não se esqueça de
mim, Zé.
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