sábado, 9 de fevereiro de 2013

Depois do vasto campo de girassóis

Primeiro veio a luz, e um monte de lamparinas acesas. Podia ser um daqueles bang-bang de faroeste, mas na vila nem havia xerife. Sentado à beira da estrada, vi um velho maltrapilho com chapéu de palha, mascando fumo e rindo pra senhora na cadeira de balanço. Eles observavam vidas. Era uma dessas cidades pequenas em que todos se conheciam, do íntimo ao fútil, ninguém escapava. 
Não tinha eletrecidade nem contato com a civilização. Quando a noite chegava dava pra sentir a cera da vela queimar. Famílias se reuniam pro jantar e de sobremesa ouviam histórias de seus avôs e avós. Histórias que serão contadas pelos filhos deles, e pelos filhos dos filhos, até o último respiro de gerações. Nosso legado é o que a gente conta.
Dava pra ouvir o piar dos pássaros sem interferência de maquinarias e motores automobilísticos. Um verdadeiro sopro de sossêgo. As estrelas cobriam o céu inteiro, o ar era limpo e cheirava campo. A única fumaça do lugar brotava das fogueiras.
Não vou contar onde fica a cidadezinha do leste por medo que talvez você conte a outro alguém. Seria uma pena ver tal calmaria ser tomada pela ganância do homem branco moderno. Você só precisa saber que eu estive lá, em meu mais lúcido sonho de minhas quase duas décadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário