- Que tanto vens à
minha casa, menina?
Minhas palavras foram
tomadas pelo susto. Era suave e sereno o som da voz da mulher do dono da
livraria. Disse-lhe então, após um breve suspiro, o que sua filha havia me
prometido. A menina não aparentava medo. Na verdade, seus lábios carregavam um
sorriso de canto, maldoso como seu próprio ser.
- Por que não compras
o livro? Disse a mulher que não me olhava nos olhos. Parecia distante e triste.
- Minha sede de
leitura não é proporcional ao que tenho no bolso. Por favor, dê-me apenas um
dia com o livro. Termino ele todo, lhe juro.
- Não posso lhe dar o
que não é meu. Contente-se com o jornal diário, as placas de trânsito e os
livros escolares.
Comecei a choramingar
feito recém-nascido. Tentei falar mas minha boca não obedecia. Nem ela
acreditava em tamanha crueldade.
- Vá para tua casa,
menina.
Ela disse e bateu a
porta de seu casarão.
Naquela manhã de dias
seguintes, não consegui pular amarelinha nem meio-fio. Voltei pra casa e me
hospedei na rede, lá na varanda mesmo. Deitei pra contar as estrelas do céu.
Contei pra elas meu desespero e adormeci ouvindo seus conselhos.
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