domingo, 24 de fevereiro de 2013

Meu sonho de pequena quebrado em mãos miúdas



- Que tanto vens à minha casa, menina?
Minhas palavras foram tomadas pelo susto. Era suave e sereno o som da voz da mulher do dono da livraria. Disse-lhe então, após um breve suspiro, o que sua filha havia me prometido. A menina não aparentava medo. Na verdade, seus lábios carregavam um sorriso de canto, maldoso como seu próprio ser.
- Por que não compras o livro? Disse a mulher que não me olhava nos olhos. Parecia distante e triste.
- Minha sede de leitura não é proporcional ao que tenho no bolso. Por favor, dê-me apenas um dia com o livro. Termino ele todo, lhe juro.
- Não posso lhe dar o que não é meu. Contente-se com o jornal diário, as placas de trânsito e os livros escolares.
Comecei a choramingar feito recém-nascido. Tentei falar mas minha boca não obedecia. Nem ela acreditava em tamanha crueldade.
- Vá para tua casa, menina.
Ela disse e bateu a porta de seu casarão.
Naquela manhã de dias seguintes, não consegui pular amarelinha nem meio-fio. Voltei pra casa e me hospedei na rede, lá na varanda mesmo. Deitei pra contar as estrelas do céu. Contei pra elas meu desespero e adormeci ouvindo seus conselhos.

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