sexta-feira, 15 de março de 2013

Sobre as cicatrizes no braço esquerdo

Sou fruto de um erro que você cometeu aos vinte e quatro e carrega por longos dezenove anos. Desculpe a estadia, sei que sou hóspede e gasto mais do que lhe dou em troca.
Te escrevo na esperança de que num surto você leia. Besteira, a novela é muito mais interessante que as linhas do meu caderno. Teus olhos não desgrudam da tevê, mesmo que minhas palavras batam em teus ouvidos insistentemente. Mas você não precisa me ouvir, tem problemas demais e eu sou a maior causa deles. Não, você não precisa me ouvir, sou complicada demais. Triste demais e nem tenho razão pra ser assim. Você nunca notou, nunca olhou pra mim. Deixa pra lá, o psicólogo resolve.
Sou diferente demais, só uma criança buscando por atenção. Quero te contrariar, te irritar, ouvir o quanto me odeia. Todos os dias, mais de uma vez. Você se arrependeu, eu entendo. Perdoe-me por não ter sido uma boa filha.
Se minhas risadas te entristecem, não tenho motivo pra olhar pra trás.

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